Por que precisamos falar da menopausa e do declínio cognitivo?

Por que precisamos falar da menopausa e do declínio cognitivo?
Compartilhe

 

Dor nas articulações, mudança de humor, ondas de calor, suores noturnos, insônia, metabolismo lento, esquecimento das coisas…

Normalmente, no período do climatério ou transição para menopausa, a sensação que se tem é “tem algo errado comigo, não estou me reconhecendo” e esses sintomas podem flutuar por bastante tempo, mas será que os profissionais de saúde estão preparados para nos atender nessa fase?

Muita gente acredita que a menopausa é um problema de ordem apenas ginecológica, já que nessa fase os ovários interrompem a produção dos hormônios. Mas o cérebro é rico em receptores para estrogênio, o que me leva a dizer que a menopausa também é um processo neurológico. Esses receptores se localizam especialmente em regiões que controlam memória, sono, humor e temperatura corporal. Muitos sintomas descritos acima se originam no cérebro, e não nos ovários.

É essencial prestar atenção nos sintomas e reconhecer quais deles podem estar ligados à menopausa, já que 50-85% das mulheres dizem que seus sintomas não foram tratados, segundo o The M Factor Menopause, primeiro documentário médico sobre o assunto.

Sou fã da Lisa Mosconi, professora de neurociência e diretora do Programa de Prevenção de Alzheimer no Centro Médico Weill Cornell, da Universidade de Cornell. Ela vem observando o comportamento cerebral das mulheres em fases como perimenopausa e anos após o início da menopausa. O estrógeno 17 beta estradiol é a forma de estrogênio mais biologicamente ativa do organismo e tem muito efeito nos receptores cerebrais.

Lisa Mosconi analisou várias tomografias feitas via emissão de pósitron – na qual a molécula do hormônio é marcada com flúor radioativo, que brilha quando se encaixa nos receptores do cérebro. Um dos principais achados é que na transição da menopausa os receptores aumentam de densidade, sinalizando a falta de estrogênio. Quanto maior a sua densidade, os sintomas cognitivos podem ser mais acentuados e isso sinaliza como se esse cérebro estivesse com “fome” de estrógeno.

Isso vem ao encontro do que a gente já observa na prática clínica e corrobora com os estudos que reconhecem que a reposição hormonal no início da menopausa é mais eficiente para prevenir demência.  Já em cérebros de mulheres na menopausa há mais tempo que não realizaram a reposição hormonal, acontece o “shut down” desses receptores, ou seja, eles se fecham pela falta de “alimentação”. Isso também reforça a “janela de oportunidade” para que a reposição seja iniciada nos primeiros 10 anos da menopausa.

O diagnóstico mais assertivo é o clínico e estudos abrem novas perspectivas sobre possíveis biomarcadores de diagnóstico da menopausa.

É fundamental espalharmos conhecimento, como já fazemos com o Projeto Cérebro em Ação, desde 2018. As mulheres merecem passar por essa fase com mais leveza e qualidade de vida. Cuidar de mulher é cuidar do futuro, é cuidar do cérebro , da família e da sociedade.

*Alessandra Rascovski é endocrinologista e diretora clínica da Atma Soma. Formada em Medicina pela Unisa, é doutora em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP. Além disso, detém certificado em medicina mente-corpo e gerenciamento de estresse pela Harvard Medical School/Mind Body Institute. Fundou o Ambulatório Clínico de Obesidade Mórbida do Hospital das Clínicas da FMUSP e é idealizadora do Instituto Rascovski e do Projeto Cérebro em Ação.


Sobre a Atma Soma

Liderada pela endocrinologista Alessandra Rascovski, a Atma Soma tem foco na prática da medicina de soma, unindo várias especialidades em prol dos pacientes, respeitando a sua individualidade e oferecendo a ele uma vida longa e autônoma.

A clínica conta com um time de médicos e profissionais assistenciais de diversas áreas como endocrinologia, urologia, ginecologia, nutrição, gastroenterologia, geriatria, dermatologia, estética, medicina oriental e ayurveda, com olhar dedicado à prática do cuidado focado no eixo neurocognitivo, metabólico e hormonal.

* por Alessandra Rascovski

jornalcristao

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *