Advogada ouve chamado e larga tudo para ser missionária da Comunidade Shalom

Advogada ouve chamado e larga tudo para ser missionária da Comunidade Shalom
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Missionária há 10 anos, Juliana reside atualmente em Cuiabá e fala sobre ajudar as pessoas através da fé

Patrícia Sanches e Willian Ramos

Há 10 anos, a advogada baiana Juliana Matos, 37, decidiu largar tudo para trás, escutar o chamado de Deus e viver como missionária da comunidade Shalom, da Igreja Católica. Atualmente, ela vive em Cuiabá. Em entrevista especial ao , ela conta que atuava como advogada quando decidiu entrar para um grupo de oração e viu o sentido da sua vida alterar. Resolveu então ajudar as pessoas através da fé. Ela detalha como foi a recepção familiar e os perrengues da vida de missionária, mas assegura ter certeza que ganhou muito ao viver o chamado de Deus. Juliana fala ainda sobre a comunidade e explica que mais detalhes podem ser buscados no site doeshalom.org e também na página no Instagram @shalomcuiaba.

Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista

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Como foi essa decisão de deixar a advocacia para ser missionária? A decisão foi tomada aos poucos?

Sim, eu terminei a faculdade de Direito, aí passei na OAB e comecei a advogar. Eu me formei em Minas Gerais, na Puc Minas, e fui morar na Bahia e lá eu já tive a decisão de voltar para igreja, de voltar para Deus, de participar. E nesse processo, de cinco anos advogando, eu conheci a comunidade Shalom, comecei a participar de um grupo de oração. E aí nesse grupo, na vivência da oração e do contato com a comunidade, eu comecei a me sentir chamada a algo muito novo, que eu nunca tinha imaginado na minha vida, para seguir e deixar tudo que eu tinha até então, que era a advocacia, o trabalho que eu amava muito – eu sempre quis advogar para ajudar as pessoas e fiz isso o tempo que eu pude. E depois, eu deixei porque eu ouvi uma voz, que é desse Deus, que me chamou a ser missionária e ajudar as pessoas dessa forma.

Rodinei Crescêncio/Rdnews

Juliana Matos - mission�ria da comunidade Shalom

Como que foi a reação da sua família? Normalmente a família tem um pouco de medo quando você fala que vai largar tudo para trás. A sua família apoiou a ideia?

Foi bem impactante. No início não teve apoio, a não ser de uma tia minha que era a única que participa da igreja. Então, no início foi muito difícil, mas eu precisei deixar Deus agir, principalmente no meu pai, que normalmente os pais fazem planos para gente. Então, foi bem difícil, bem impactante. Eles também não têm experiência de Deus, mas hoje é mais tranqüilo. Hoje eles vão compreendendo, na verdade, vão experimentando na minha vida, esse Deus que eu experimentei, eles também estão sendo despertados.

Nós estamos em 33 países e em quase todos os estados do Brasil e no Distrito Federal. E nós somos em torno de 12 mil membros, entre Vida (os que saem em missões) e Aliança

Juliana Matos

Há quanto tempo você atua como missionária e já passou por quais lugares?

Desde o processo que eu ingressei na comunidade, tem dez anos. Já passei por São Paulo, Recife, Natal, Fortaleza.

Muito perrengue?

Com certeza. Sempre tem muitos perrengues, muitas aventuras –  para mim, tudo é uma aventura -, mas são muitas dificuldades, tem os sofrimentos, a gente dá o nome como oferta, e não fazemos, às vezes, aquilo que eu quero, a minha vontade. Mas, também há muitas alegrias, com certeza. Nada foi perdido, é perdido, porque eu estou com Deus. Nenhum tempo é perdido. Um vez, o meu pai disse ‘você perdeu o seu tempo, você está perdendo seu tempo e deixando sua vida passar’, mas dentro de mim eu tinha e tenho uma certeza muito grande de que desses momentos que eu estava com Deus, na vontade de Deus, não perdi meu tempo. Na verdade, eu só ganhei, vivendo minha vida com Deus.

Não é muito comum ver missionários na Igreja Católica – acontece mais entre os evangélicos. Você defende que isso (ser missionária) seja despertado com uma força maior dentro do catolicismo? Afinal, a Igreja Católia sofre muitas críticas de ser mais fechada, mais dura e de, às vezes, não “buscar as ovelhas”.

Na verdade, a igreja sempre teve missionários. Por exemplo, eu nasci no dia de São Francisco Xavier, ele é um missionário antigo que queria ir para as Índias, ele é o padroeiro das missões, mas a nossa forma de ser [missionário] é nova, é diferente na igreja. A nossa comunidade tem 42 anos e, realmente, é algo novo para a igreja. É uma nova forma de evangelização, dentro dos parâmetros de hoje. Na verdade, a igreja sofre algumas críticas, mas ela sempre foi evangelizadora, se renova. Então, o carisma é algo novo que o próprio Deus dá para evangelização, para alcançar como o homem vive hoje.

Rodinei Crescêncio/Rdnews

Juliana Matos - mission�ria da comunidade Shalom

Como é a Comunidade Shalom?

Para alcançar o homem de hoje, Deus vai dando a sabedoria. A gente trabalha junto com as artes. Temos eventos como o Halleluya, que é um evento bem grande que acontece em Fortaleza e também em outros lugares do mundo e do Brasil, um festival de música e de artes. São quatro dias de festa, sem nada de álcool, é uma festa totalmente cristã. A gente também tem vários trabalhos de artes, espetáculos dentro da comunidade e nos eventos que nós fazemos. E a gente também trabalha com os jovens, então a gente faz eventos como agora, o Acamps, que é um acampamento para jovens. Além disso, tem também um trabalho de promoção humana, tem os orfanatos, casos de recuperação de adictos, temos um abrigo de idosos. A gente vai nas periferias, na sociedade, para trabalhar, evangelizar, porque nosso foco principal não é somente dar, por exemplo, alimento pra quem tem fome, mas é fazer com que aquela pessoa saiba que ela é muito amada por Deus, existe uma dignidade nela e, a partir daí, ela viver a vida que Deus quer pra ela. Então, a gente leva o básico. Por exemplo, agora teve a enchente do Rio Grande do Sul. Então nós temos umas 20 pessoas que estão lá, que foram para ajudar. Então, a gente sabe que precisa do necessário, mas vai muito além disso. É a semente de Deus que dá a vida que Deus quer para aquela pessoa.

Arquivo Pessoal

Juliana Matos comunidade Shalom

Qual é o tamanho hoje da Comunidade Shalom?

Nós estamos em 33 países e em quase todos os estados do Brasil e no Distrito Federal. E nós somos em torno de 12 mil membros, entre Vida (os que saem em missões) e Aliança. Fora isso, nós temos uma obra – que são as pessoas que participam, mas que não são missionários. Aí extensão é bem maior, já são mais de vinte mil no mundo inteiro.

Essa trajetória como missionária tem um período ou é para sempre?

Quando eu ingresso para comunidade, eu tenho um período temporário, onde vou fazendo os meus votos, digamos assim, a minha consagração temporária, mas chega um período em que eu preciso definir se é para sempre ou não. Então, o caminho que eu ingresso é no sentido de definitivo, de para sempre, viver assim para sempre. Mas, a pessoa, quando ela vai vivendo o processo, pode fazer um discernimento, ficar um tempo, e descobrir que Deus chama ela para outra coisa. Em média, são oito anos e, depois desse tempo, a pessoa faz [os votos] para sempre, os [votos] definitivos.

O que difere a forma de vida da Comunidade Shalom das tradicionais da Igreja Católica?  

A nossa comunidade tem 42 anos e, realmente, é algo novo para a igreja. É uma nova forma de evangelização, dentro dos parâmetros de hoje.

Juliana Matos

Eu acho que, na verdade, a grande diferença – e não que os que são da paróquia ou de qualquer outra forma dentro da  Igreja Católica não sejam assim -, mas existe uma relação de amizade, de intimidade com Deus. Eu não faço simplesmente pelo legalismo, mas eu vou descobrindo um sentido de tudo isso. Não que o que as outras pessoas façam não vão ter sentido. A gente vive essa vida assim de intimidade, que dá liberdade. Então, a gente vive a chamada para rezar duas horas por dia: ‘Nossa, mas são duas horas parada rezando pra Deus’. É, mas não é uma obrigação, é uma necessidade e eu vou descobrindo essa necessidade como um amigo. E a gente reza o terço, a gente vai na missa todos os dias, faz adoração, se confessa, vive a castidade – tudo isso, mas a gente vai descobrindo o sentido. Talvez, o que você queira dizer sobre a Igreja Católica ser mais fechada, por exemplo, é porque, na verdade, a igreja tem uma riqueza muito grande no sentido do que do que ela tem de doutrina e que, talvez, não foi bem passada com o tempo. As pessoas não entendiam. Eu falo por mim mesma. Não sou de missa desde pequena, e quando eu comecei a descobrir o que era a missa, agora faz sentido. Porque eu não sento, fico de joelho, sento e levanto igual todo mundo e não sei o que é. Eu vou entendendo o que é e vou descobrindo a riqueza e a beleza do que é e, pra mim, aquilo vira, na verdade, uma necessidade. O pessoal diz, por exemplo, que é pecado faltar a missa no domingo. É pecado. Mas, na verdade, eu tenho necessidade (de ir à missa). Não é uma obrigação, simplesmente. E as regras nos ajudam a viver, né?  Você tem disciplina.

jornalcristao

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